Câmara Municipal de Gondomar

“De Mãos Dadas” para investir na educação das crianças a partir da primeira infância
publicado a 15 de Junho de 2015

A atuação do poder local deve imperar pelo estabelecimento de articulações e sinergias com as várias instituições e entidades localizadas no seu território, tendo uma função facilitadora e parceira no estabelecimento dessas parcerias.

Neste contexto, a Câmara Municipal de Gondomar, no sentido de erigir uma sólida e marcada parceria com as Instituições Particulares de Solidariedade Social (IPSS’s), entende que os vínculos de proximidade se devem pautar pelo aprofundado conhecimento das dinâmicas das IPSS’s, suas motivações, constrangimentos, potencialidades e perspetivas futuras.

É neste contexto que a cada segunda-feira será publicada uma entrevista com os gestores/Presidentes de Direção das instituições sociais, com o intuito de se recolher informação relativa à perceção inerente às IPSS’s que dirigem.

EDUARDO CASTRO SOUSA (PRESIDENTE DIREÇÃO DA “DE MÃOS DADAS - ASSOCIAÇÃO DE SOLIDARIEDADE SOCIAL)

No âmbito da área de atuação da instituição que dirige, quais as principais motivações para a intervenção social no Município de Gondomar?
Esta instituição tem vindo, ao longo dos últimos anos, a assistir a uma alteração da população-alvo e das problemáticas apoiadas. Efetivamente, as famílias apresentam hoje diversos problemas sociais que necessitam de ser analisados e encontradas soluções. Estes problemas originam nas crianças alguns sinais que carecem de uma intervenção cuidada e adequada a cada criança/família. As opções educativas do Projeto Educativo da escola reforçam esta preocupação, tendo sido definida uma escola inclusiva, participativa, participada e próxima da comunidade educativa. O objetivo primordial da “De Mãos Dadas” é a formação integral das crianças enquanto cidadãos livres, responsáveis e participativos, através de uma educação colaborativa, na qual as crianças realizam escolhas, concretizam sonhos e aprendem, conscientes da sua pertença e importância na sociedade. Esta ação vai muito além da prática pedagógica e é prestado um apoio efetivo às famílias, garantindo a sua formação enquanto pais e como pares dos educadores na educação dos seus filhos, numa relação de grande proximidade. A segurança alimentar, a variedade e o fornecimento de três a quatro refeições por dia a todas as crianças é também nossa preocupação, garantindo uma alimentação correta a todas as crianças. Conseguimos ainda apoiar algumas famílias sinalizadas com alimentos e outros géneros, recolhidos internamente entre as restantes famílias.

Contextualizando a intervenção da vossa instituição a um nível concelhio e supraconcelhio, quais considera ser as principais potencialidades?
A “De Mãos Dadas” desenvolve a sua atividade há 30 anos, com uma política de qualidade bem definida e assente em princípios orientadores da prática dos seus profissionais. A prática educativa e pedagógica da instituição é, sem dúvida, uma das principais potencialidades da nossa atuação. A educação desde a primeira infância até aos 15 anos, numa perspetiva globalizante e integradora, permite o desenvolvimento das crianças num ambiente colaborativo construtivo, na qual cada criança decide sobre o seu trajeto e sobre o seu percurso educativo, sendo o educador seu par numa descoberta de emoções e aprendizagens. Porquê? Porque a pedagogia adequa-se aos efetivos interesses individuais da criança e desta inserida num grupo, desenvolvendo competências de socialização, de investigação, autonomia, auto-conceito e auto-estima. As metas definidas pelo Ministério da Educação para o pré-escolar são trabalhadas de forma transversal e contextualizada ao grupo e a cada criança como ser único, com um Plano de Desenvolvimento Individual sendo avaliado e reajustado. As crianças crescem num ambiente de valorização, de partilha e ao seu ritmo o que, no contexto institucional da “De Mãos Dadas”, com uma multiplicidade de origens familiares, com conhecimento e interesse diferentes, se torna fundamental. As dificuldades, os problemas sociais e a diferença cultural são vistos como oportunidades únicas e ricas de aprendizagem. Por outro lado, esta forma de entender a criança e a escola que construímos deve-se sobretudo aos educadores e auxiliares que, com o apoio das famílias, foram moldando a escola com as crianças e para as crianças. Como uma escola onde a partilha é a base do trabalho diário das crianças, desenvolvemos nos últimos três anos o nosso Projeto Educativo “Do que somos… para o que podemos dar”, no qual preconizamos um crescimento conjunto enquanto cidadãos para uma mudança da sociedade, aprendendo a ser justos, solidários e colaborativos. Neste sentido, também os educadores de infância da “De Mãos Dadas” decidiram partilhar todo o seu crescimento enquanto profissionais e a sua prática educativa com as crianças, para que outros educadores possam refletir e experimentar práticas inovadoras e desafiadoras. Esta partilha culminou no lançamento de um livro em Fevereiro - “Pedagogia da Consideração pela Criança – inovar em educação de infância” - e que será muito brevemente lançado em Gondomar, na Biblioteca Municipal. Entendemos que as nossas crianças e educadores podem enriquecer outras instituições e outros profissionais com a partilha de experiências, continuando abertos e recetivos a novas experiências que possam também vir a complementar a nossa atividade.

Na sua opinião existem constrangimentos à intervenção da vossa instituição? Se sim quais e a que níveis?
Sim, existem alguns constrangimentos. A nossa instituição foi crescendo, ao longo dos anos, nomeadamente, ao nível das respostas sociais de creche e pré-escolar. Mas nem sempre é fácil numa sociedade burocratizada e com um Estado que, pelo menos, nos próximos anos não está disponível para apoiar novas respostas sociais noutras áreas tão necessárias à nossa comunidade como apoio aos idosos e apoio familiar, sem cortar às respostas já existentes. Será praticamente impossível progredir, investir e adequarmo-nos ao mercado, numa fase de grande dificuldade económica da população sem o apoio do Estado. As empresas e a banca progridem aos poucos numa mudança de entendimento acerca da importância das IPSS´s para o PIB nacional e acerca da necessidade de criarem produtos e serviços adequados às necessidades destas instituições.

Perspetivando a intervenção e a atuação da Instituição a médio e longo prazo, quais são os vossos principais projetos? De que forma pretendem dinamizá-los?
A nossa intervenção e atuação continuarão a incidir, principalmente, no investimento na educação das crianças a partir da primeira infância, pois acreditamos que as crianças precisam de crescer procurando as respostas às suas dúvidas e aos seus problemas, explorando as suas capacidades, crescendo felizes porque são valorizadas e porque acreditamos que são capazes, conquistando também o seu espaço junto dos seus pares. Por outro lado, procuramos investir em áreas diferenciadas no apoio à comunidade através de programas ou serviços capazes de responder às necessidades que vamos encontrando no terreno. A dinamização destes projetos passará pelo estabelecimento de novas parcerias com outras organizações, através de projetos financiados que possam melhorar as condições de vida das pessoas e através de projetos culturais.